por Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano.

Ando sonhando muito.
Nessa noite, por exemplo, sonhei que estava numa casa grande, parecida com a velha casa dos meus pais, onde passei infância e adolescência, e que alguém me oferecia pássaros. Aguns eram tão pequenos que passariam pelo arco de um anel de dedo. Outros, maiorzinhos. Pensei se, afinal, gostaria de ficar com algum (ou alguns) dele (s). Como reagiriam a esses novos companheiros os meus anjinhos do céu, Philip e Elizabeth? Talvez sentissem ciúmes...
Depois, estava eu num cômodo que era uma espécie de passagem, entre um quarto e outro e, no outro, estavam minha tia Jeannette e outras pessoas. De repente, o chão, de tacos, começou a se abrir, loucas fendas se formavam no piso e eu gritei para que minha tia e os outros saíssem de onde estavam, antes que a casa desmoronasse.
A casa havia realmente desmoronado, mas num outro sonho, da noite anterior.
Estávamos, meus pais, eu e o meu amor, Mauro Caetano, na sala, onde haviam aparelhos de som, computadores. Não sei como eu sabia que estávamos nos anos 1960, antes do advento da Informática e antes de eu conhecer o Caetano. Uma das tomadas elétricas de um dos aparelhos, emitia uma forte luz branca. Minha mãe, Wanda, disse:
-- Isso vai virar um curto-circuito. Vamos sair daqui!
Saímos. Fomos para um grande e maravilhoso jardim que cercava a casa, com muitas árvores grandes e muitas flores. E, numa explosão, vimos uma parte da casa vir abaixo...
"Vai, com jeito vai, senão um dia a casa cai!" -- dizia a velha marchinha de carnaval.
Estamos num momento em que a casa está caindo, no Planeta.
O presidente americano atropela todos os valores que, pós II Guerra Mundial, têm norteado da diplomacia no mundo. As mudanças climáticas têm causado enormes catástrofes em toda a Terra. Nesse começo de 2025, uma sucessão de desastres aéreos surpreendem, pelo número incomum e parecem coincidências, mas coincidências não existem. O pensamento mundial é retrógado, a polarização política, as fake news, tudo isso, anula a capacidade do diálogo, da tolerância, da solidariedade.
O chão da casa se parte sob os nossos pés. E o desmoronamento é a ordem do dia.
Meu Deus! Alcançamos tantas glórias na ciência e na tecnolgia e estamos, mentalmente, regredindo ao estado mais bárbaro da selvageria...
Tenho 73 anos, caminhando a passos rápidos para os 74. Minha juventude foi de sonhos, os mesmos sobre os quais, no começo dos anos 1970, John Lennon dizia: "o sonho acabou".
Sim. O sonho agora é de chãos de tacos se abrindo e de casas a desmoronar!
Enquanto o céu, espanantando as esperanças, pega fogo.
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