por Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano

Quando D. Pedro (que ainda não era Primeiro) deu seu famoso grito de “Independência ou Morte” às margens do córrego do Ipiranga, estava garantindo a si mesmo a coroa de Imperador, coisa que seu pai, D. João VI, dissera a ele, ao sair do Brasil de volta ao seu Reino em Portugal: “Bota essa coroa na tua cabeça, Pedrinho, antes que outro aventureiro o faça”.
Liberdade! O Brasil deixava de ser colônia para virar um Império.
Liberdade para quem? Em 1822, quando isso se deu, no 7 de setembro, o nosso país tinha milhares e milhares de negros escravizados. As mulheres continuavam presas à sua humilhante categoria de “cidadãs de segunda classe”, equiparadas, na Letra da Lei, às crianças e aos silvícolas. Todos eles carentes da “proteção” dos homens, brancos e de elite. Aliás, os chamados “selvagens” (apenas porque professavam uma cultura bem diferente da europeia, que mandava na terra nossa) continuariam a ser dizimados por muitos e muitos anos, sob a falácia da “proteção”.
Nesse 7 de setembro de 2021, 199 anos depois do grito de Liberdade do nosso D. Pedro I, melhoramos um pouco. Mulheres, índios, negros, pobres, e outras minorias discriminadas, lenta e duramente, foram conquistando, com o passar de décadas, alguns direitos e viram surgir, afinal – entre ditaduras várias e retrocessos variados – alguma esperança de igualdade de oportunidades, de respeito e até de solidariedade.
Não sem luta. Não sem sofrimento e morte. Não sem sacrifício.
Agora, a Data Nacional ameaça ser novamente cooptada pela Turma da Intolerância, a turma arrogante que julga ser a sua verdade, uma verdade única e universal. Até parece o Taliban.
Sempre que um pequeno grupo quer impor suas ideias a todos, a Deusa Liberdade treme nas bases. Está certo que “cão que ladra não morde”, mas, às vezes, consegue abocanhar alguma coisa.
Não existe Paz sem Liberdade.
E a liberdade é saber exercer, individualmente, a tolerância e a compreensão para verdades diferentes das nossas próprias. É saber ouvir. É amar ao próximo como a si mesmo, independentemente das discordâncias ideológicas e culturais. Isso é que é a Liberdade, com maiúscula.
Nenhum ser humano é melhor do que outro, a despeito de seus orgulhos idiotas, o orgulho da sua formação educacional, o orgulho de sua cor, o orgulho se seu dinheiro. Como diria Billy Blanco, “o tombo termina com terra por cima e na horizontal.”
Somos todos absolutamente iguais na hora da Morte.
Seres humanos, animais, árvores, insetos. Nada, sobre a Terra, perdura. Tudo morre e se transforma.
Bastaria a consciência disso para nos vermos todos iguais, e livres.
2021, setembro, 07
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