por Vera Krausz

Passeávamos as três, pelo grande parque... Clara tarde de inverno. Céu azul, não fora a poluição da Metrópole, diríamos que respirávamos ar puro. Agradável caminhada, pelo verde da grama, o bosque sonorizava pássaros e risos infantis... Conversávamos animadamente, histórias dos amores, dos desejos, das conquistas amorosas que envolvem a fantasia de três jovens mulheres, que já haviam experimentado algumas emoções, e traziam dores, esperanças e recordações em suas telas mentais.
Aproxima-se jovem cigana: - Querem saber do futuro? Deixem-me ler vossas mãos? -- Custa só dez reais.
Eu estendo-lhe minha mão. Percebo em seu rosto certa relutância em dizer: - O traçado não é comum, terás vida longa, entretanto em teu caminho terás que passar por muitas encruzilhadas, onde somente tu poderás definir teus passos e tua trajetória, livre arbítrio.
E prosseguia: - Quando estiveres perto do mar, acenda uma vela para teu anjo da guarda, para os náufragos...
Moça bonita, vestido colorido e rodado, negros cabelos, olhos escuros a me fitarem. Forte energia me envolveu.
Marta e Eliza também sentiram o envolvimento, um clima de magia e mistério tomava conta. Elas não estenderam suas mãos, entretanto outras ciganas se aproximavam, mas nos esquivamos de nova abordagem.
Eu nunca havia pensado antes no futuro daquela forma. Deparava-me com uma visão ampliada da vida, algo que em meus 27 anos, não havia imaginado. Apenas vivia, cada dia. Aliás, sempre dizia para meu amor, que o importante era o "presente".
O presente, é um presente!
Tão lindo meu amor! A maior e mais forte de todas as recordações, ou melhor, foi um grande amor! Vivido e realizado em toda a sua dimensão. Inesquecível.
Saímos do parque e agora refletíamos sobre a fala da cigana.
Eliza, sempre foi muito intuitiva, sua sensibilidade chamava a atenção, de todos que dela se aproximavam. Quando a conheci, senti imediata identificação. Ninguém antes teria me ouvido com tanta profundidade, rapidamente nos tornamos íntimas, tínhamos a impressão de que nossa amizade não havia se construído, mas que sempre existiu. Havia uma facilidade de comunicação, poucas palavras e era suficiente para ela me dizer:
- Verônica, eu sei o que você está sentindo...
Entretanto nesta tarde, Eliza também ficou intrigada. Perspicaz, ressaltava:
- Mas o mais interessante é que nós vamos mesmo para a praia na próxima semana. Você tem coragem de acender uma vela a beira mar?
Recordava-me de uma vez que estive na praia com meus pais, tinha provavelmente 12 anos, era dia 8 de dezembro e haviam muitas velas na praia, círculos com homens e mulheres vestidos de branco, cantando e dançando.
Minha mãe não quis que nos aproximássemos, entretanto, conforme nos afastamos, um homem de branco se aproximou dela e entregou-lhe uma rosa branca. Encabulada explicou:
- Hoje é dia de Nossa Senhora.
Demorei-me para responder o que Eliza me questionava, meus devaneios sempre foram constantes, muitas vezes me diziam que eu vivia "no mundo da lua".
Dei uma risada e falei:
- Mas é lógico que eu vou acender uma vela...
- E vocês vão me acompanhar, não vão meninas?
Marta quebra o silêncio e diz:
- Se vocês quiserem tudo bem, mas eu não vou fazer nada.
trecho do livro "O Resgate de Verônica", de Vera Krausz
Evaldice Maria Ruck Cassiano Bom dia em dobro, a culpa foi da cigana descrita pela Vera, me encantei.
Vera Krausz Obrigada Isabel Fomm de Vasconcellos. Como sempre impecável tua publicação no Portal.
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