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A Segunda Série de TV Brasileira, 1960
POR ISABEL FOMM

"o “copião”, que digitalizei com um fundo musical, ainda que sem falas, é um barato! Você pode assistir, ver a interpretação de Tarcísio e dos atores, ver a direção do genial Antunes Filho" 

Tarcísio Meira e Anik Mavil.
Francisco Cuoco

Em 1960, Jânio Quadros era o presidente do Brasil, eleito pelo voto popular com a maior votação da história.

Jânio fez leis esdrúxulas, proibiu o biquíni (ai!), a briga de galo...

Mas, entre as suas determinações, estava a de que, em cada oito séries de TV, exibidas pelas nossas televisões, uma deveria ser nacional.  Era uma lei protecionista e todos os produtores da época ficaram muito entusiasmados.

 

Um capítulo de uma série de TV, produzida no Brasil, custava na época entre 700 mil e um milhão de cruzeiros. A importada chegava aqui por 300 mil. Sem a lei, não haveria como concorrer com as importadas.

 

Foi nessa época que Alfredo Palácios conseguiu produzir e vender (patrocinar) sua famosa série “O Vigilante Rodoviário”.

Meu pai, Alfredo Fomm de Vasconcelllos, tinha então um laboratório e uma produtora de cinema em 16mm. Meu irmão, Alvan, trabalhava na TV Excelsior, que era líder de audiência. Assim, os dois resolveram produzir uma série para TV.

Para escrever a série, chamaram Roberto Freire.

Para dirigir, Antunes Filho.

Para estrelar, Tarcísio Meira e Anik Mavil.

E para contracenar, um monte de atores importantes da época, como Fulvio Stefanini e Francisco Cuoco.

 

A série se chamava “Rádio Patrulha” e contava as histórias de moças atacadas por um bando de “playboys” que as agrediam e marcavam seu rosto. Tarcísio Meira era o detetive responsável pela investigação dos casos. Anik, uma das vítimas.

Eu tinha apenas 9 anos de idade quando meu pai e meu irmão começaram a produzir a série. Tive catapora. E Glória Menezes, então namorada de Tarcísio, foi me visitar, eu toda cheia de berebas e ela esbanjando suas lindezas, toda simpática e carinhosa, me consolando no quarto.

Quando sarei da catapora, uma noite, estava sapeando os artistas na sala de projeção do laboratório do meu pai e Tarcísio Meira se aproximou de mim. Colocou as mãos sobre os meus ombros e disse:

- Princesa, me consegue um copo d’água?

Corri para a cozinha, em busca da empregada, com o coração disparado. Aquele galã... Nunca esqueci.

 

Depois, de vez em quando, meu irmão Alvan me levava às locações de filmagem. Eu ficava fascinada com a boate cenográfica que eles construíram nos porões do teatro Maria Della Costa, onde meu primo Sergio Marques tocava piano e um montão de atores encenavam a realidade da vida noturna paulistana do começo dos anos sessenta, que estava a milhões de distância da realidade dos meus 9 anos de idade.

Todo o esforço da grande equipe de produção, atores, o investimento do meu pai... tudo foi em vão, infelizmente.

 

Em agosto de 1961, como se sabe, Jânio renunciou à presidência e a lei que obrigava as produções nacionais na TV caiu por terra. Assim, com um custo 3 vezes maior para as séries nacionais contra as importadas, todos os patrocinadores desistiram.

Sobrou apenas um “copião” do que já havia sido filmado.

Um “copião” é a primeira cópia de trabalho, tem apenas a cenas filmadas, sem som. O som, no cinema, é colocado depois. Mas o “copião”, que digitalizei com um fundo musical, ainda que sem falas, é um barato! Você pode assistir, ver a interpretação de Tarcísio e dos atores, ver a direção do genial Antunes Filho, ver a fotografia de Carlos Alberto (prêmio Roquette Pinto de iluminação)a quem eu chamava carinhosamente de “inventor maluco e pipocas”,  porque ele vivia inventando máquinas esquisitas e fazia a melhor pipoca de São Paulo.

Tarcisio ao telefone
1960 Radio Patrulha Anik e Tarcisio
1960 Radio Patrulha Alvan filma INT.jpg
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